Carcinomatose peritoneal: o que é, sintomas e tratamentos

O peritônio é uma membrana celular que reveste a parte interna da cavidade abdominal e recobre os órgãos da cavidade abdominal. Toda essa camada é rica em vasos do sistema linfático, que funcionam como sistema de defesa do organismo. Infelizmente, o peritônio pode ser invadido por células neoplásicas. Esta condição é mais comumente referida como "câncer peritoneal", mas também foi chamada de:

  • Malignidade da superfície peritoneal
  • Carcinomatose peritoneal
  • Metástases peritoneais
  • Pseudomixoma peritonei
Imagem Carcionomato Peritonel - Dr. Artur Reis

O câncer de peritônio pode ser classificado como primário ou secundário. Chama-se primário o câncer que se forma na própria membrana e secundário quando ele inicia em algum outro órgão (intestinos, ovário, útero, estômago, pâncreas, etc...) e se implanta no peritônio.

O câncer primário de peritônio é conhecido como mesotelioma e também pode originar-se dele um carcinoma semelhante ao câncer de ovário. Já o câncer que vem de outros órgãos e se implanta no peritônio é conhecido como carcinomatose peritoneal.

Carcinomatose Peritoneal surge devido a metástases

Também denominado metástases peritoneais, alguns tumores abdominais podem atingir a superfície externa do órgão (serosa). Com isso, algumas células cancerígenas se soltam do tumor e ficam livres na cavidade abdominal. Estas células livres circulam pela cavidade abdominal junto com o liquido que normalmente está presente (mesmo em pessoas que não possuem a doença).

O liquido peritoneal normal é re-absorvido em alguns locais da cavidade abdominal, como no peritoneo do diafragma. Através de passagens microscópicas existentes no peritoneo destes locais, as células se implantam e começam a se multiplicar, formando os nódulos de carcinomatose peritoneal.

A Carcinomatose Peritoneal podem ser assintomáticas, ou seja, o paciente, pode não apresentar sintomas durante algum tempo. Por isso é sempre bom manter a rotina de exames, nunca deixar de acompanhar o tratamento e sempre tirar todas as dúvidas com os médicos. Um dos exames mais importantes é o Índice de Carcinomatose Peritoneal ou PCI (Peritoneal Carcinomatosis Index), do inglês.

Incidência do câncer de peritônio

Durante muito tempo, o câncer peritônio foi considerado uma doença rara. Esta percepção ainda pode ser verdadeira para subtipos específicos de câncer peritoneal, como mesotelioma maligno e pseudomixoma peritonei (PMP). No entanto, todos os anos, centenas de milhares de pacientes em todo o mundo são diagnosticados com câncer peritoneal originário de um tumor primário localizado em outras partes do organismo, como câncer de cólon, câncer gástrico ou câncer de ovário.

Câncer primário no peritônio

O câncer primário no peritônio é considerado raro, acometendo algo em torno de quatro ou cinco pessoas numa população de 100 mil. Seus fatores de risco ainda não são muito bem conhecidos e a doença não apresenta sintomas específicos.

Quando progride, o câncer primário no peritônio favorece o aparecimento de nódulos, podendo causar dor abdominal e acúmulo de líquido. Como em qualquer tumor, quanto mais cedo é feito o diagnóstico, mais positiva é a resposta ao tratamento. O tratamento é baseado na quimioterapia, que ataca e minimiza o tumor. Em alguns casos, após reavaliação médica, se opta por procedimentos cirúrgicos que visam remover lesões residuais e por quimioterapia intraperitoneal hipertérmica.

1: 1 milhão - Subtipos raros

O mesotelioma maligno e o pseudomixoma peritonei são subtipos raros de câncer peritoneal, que afetam aproximadamente uma a duas pessoas por milhão de pessoas por ano.

Pseudomixoma peritoneal (PMP)

Pseudomixoma peritoneal é o acúmulo de neoplasia mucinosa peritoneal. Tem como principal fonte o apêndice cecal, mas pode se originar no ovário. Caracteriza-se pela ascite mucinosa, que é o acúmulo de muco na cavidade abdominal. Tem a característica de ser mal respondedor à quimioterapia venosa e tem como principal forma de tratamento a citorredução completa seguida de HIPEC (qiomioterapia intra-peritoneal hipertérmica).

Confira o vídeo que gravei sobre Pseudomixoma Peritoneal clicando aqui.

Quando o peritônio é o segundo alvo do câncer

Mais frequentes do que os diagnósticos de câncer primário no peritônio são os casos em que um tumor de estômago, intestino ou ovário, por exemplo, cresce, se espalha e se implanta no peritônio. Nessas situações, células tumorais se desgrudam do órgão acometido e conseguem migrar e se implantar no peritônio, contribuindo para a disseminação da doença. É o que os médicos chamam de carcinomatose peritoneal. Quando a doença alcança esse estágio, os recursos terapêuticos englobam desde quimioterapia até intervenções cirúrgicas.

sintomas da carcinomatose peritoneal

Nos estágios iniciais, o câncer peritoneal pode ser assintomático. Frequentemente, o câncer peritoneal é descoberto por completa surpresa durante a cirurgia para o tumor primário. Mesmo durante a fase assintomática, a doença pode ser generalizada e avançada, que suporta a reputação do câncer peritoneal como uma "neoplasia silenciosa".

Quando os nódulos do tumor começam a crescer na superfície intestinal, podem causar obstrução progressiva do trânsito intestinal. Esta obstrução pode resultar em um inchaço desconfortável no abdômen, perda de apetite e peso, náuseas e constipação. Além disso, podem ocorrer sintomas não específicos, como cansaço e dor.

A carcinomatose peritoneal também pode resultar no acúmulo de grandes quantidades de líquido aquoso na cavidade abdominal. Este fenômeno é chamado de "ascite maligna" e, eventualmente, resulta em um aumento da cavidade abdominal. Para pseudomixoma peritonei, as ascites geralmente consistem em mucina (muco). Ascite podem causar sintomas semelhantes aos da obstrução intestinal, mas a ascite também pode levar à falta de ar devido à pressão nos pulmões.

A obstrução intestinal completa, que resulta em vômitos, dor abdominal e incapacidade de comer e beber, é frequentemente um sintoma tardio e grave de câncer peritoneal e pode resultar em uma rápida deterioração da condição clínica do paciente.

Principais causas do câncer de peritônio

O câncer peritoneal do câncer de cólon é muito mais comum: pelo menos 10% dos pacientes com câncer de cólon desenvolverão câncer peritoneal em algum momento de sua doença. Para o câncer gástrico, esta porcentagem é ainda maior, com estimativas de até 30% dos pacientes. Em todo o mundo, centenas de milhares de pacientes desenvolverão câncer peritoneal a cada ano como resultado de um tumor em outro lugar do corpo.

Tratamento da carcinomatose peritoneal

Há pouco tempo atrás, o tratamento de pacientes com câncer peritoneal era considerado um esforço inútil. Naquela época, esses pacientes normalmente viviam apenas alguns meses após o diagnóstico, dependendo da gravidade da doença, da condição do paciente e da origem do câncer peritoneal.

Ao longo das duas últimas décadas, essa perspectiva mudou e muitos hospitais em todo o mundo agora oferecem tratamento para pacientes selecionados com câncer peritoneal. O tratamento é desafiador e requer profissionais médicos com especialização específica em câncer peritoneal.

O tratamento ideal para cada paciente depende de muitos fatores, incluindo idade, condição geral, origem e gravidade do câncer peritoneal. Idealmente, os pacientes com câncer peritoneal são avaliados por uma equipe multidisciplinar composta por oncologista clínico, cirurgião, radiologista dedicado e patologista com conhecimento sobre câncer peritoneal.

Mesmo hoje, o tratamento pode não ser possível para todos os pacientes. Existem alguns casos em que a condição do paciente não permite o tratamento ideal.

Felizmente, alguns tipos de tratamento são possíveis em muitos pacientes. De um modo geral, existem duas estratégias para o tratamento destes pacientes:

Tratamento do câncer de peritônio com intenção paliativa

Este tratamento visa melhorar a qualidade de vida e reduzir os sintomas do câncer peritoneal, mas não se destina a curar o paciente. Esse tratamento pode incluir diferentes aspectos que vão do alívio da dor e remoção de ascite ao tratamento com quimioterapia sistêmica e cirurgia para resolver a obstrução intestinal.

Confira o vídeo que gravei sobre Tratamento com Intenção Paliativa clicando aqui.

Tratamento do câncer peritoneal com intenção curativa

Este tratamento se esforça para curar o paciente. Esta abordagem é tipicamente um esforço multidisciplinar combinando quimioterapia sistêmica, cirurgia citorredutora extensiva para remover todas as células tumorais do peritônio e quimioterapia hipertermica intraperitoneal (HIPEC) para destruir células tumorais microscópicas. Mais uma vez, pacientes com câncer peritoneal devem procurar o conselho de uma equipe multidisciplinar com conhecimento específico sobre esta doença sempre que possível para determinar a melhor forma de tratamento.

Confira o vídeo que gravei sobre Tratamento com Intenção Paliativa clicando aqui.

Os avanços no manejo da Carcinomatose Peritoneal

O aumento da sobrevida que temos hoje, deve-se basicamente a incorporação de novos tratamentos para as metástases. Os agentes beneficiadores para estes avanços, incluem as quimioterapias clássicas, que já conhecemos, com um adendo: a cada ano a medicina se reinventa e alguns tratamentos que envolvem a quimioterapia tornam-se menos agressivos, sem que o efeito mude.

Hoje a realidade prevê selecionar o paciente para um tratamento sistêmico ou para quimioterapia de acordo com o seu perfil molecular, que também é conhecido como perfil de mutação. É fundamental que o paciente, desde o diagnóstico da Carcinomatose Peritoneal, seja encaminhado um teste específico, responsável por direcioná-lo ao tratamento correto. Geralmente são esses os tratamentos mais eficazes e sem muito efeito colateral, além disso, estes ajudam o paciente a ter mais qualidade de vida.

O tratamento cirúrgico para metástases também é um grande contribuinte para esses avanços. Em alguns pacientes é possível que as metástases sejam operadas. A peritonectomia, é uma forma de tratamento cirúrgico de algumas neoplasias que acometem o peritônio.

Quimioterapia neoadjuvante no tratamento do carcinomatose peritoneal

O Câncer do Peritôneo é a segunda principal maior causa de morte no mundo. Mediante a esta informação, cabe destacar que a medicina vem buscando variadas alternativas de tratamento a fim de melhorar a qualidade de vida dos pacientes que apresentam esta condição.

Estudos comprovam que o tratamento padrão para carcinomatose peritoneal colorretal envolve a cirurgia citorredutora, além da quimioterapia intraoperatória hipertérmica (HIPEC) e, se possível, a quimioterapia adjuvante pós-operatória.

No entanto, a carcinomatose peritoneal é um câncer muito agressivo, por isso, uma porcentagem dos pacientes, infelizmente, não chega a receber a quimioterapia adjuvante devido a complicações pós-operatórias.

Para estes casos, a quimioterapia neoadjuvante poderia ser benéfica. A finalidade da quimioterapia neoadjuvante é a redução do tumor antes da realização da radioterapia ou da cirurgia. Desta maneira, o tratamento pode melhorar a sobrevida do paciente, além de prevenir a recorrência peritoneal.

A carcinomatose peritoneal pode se originar do câncer gástrico?

PRINCIPAIS CAUSAS DO CÂNCER DE PERITÔNIO

O paciente que é diagnosticado com Câncer Gástrico também pode vir a desenvolver a Carcionomatose Peritoneal?

A complexibilidade desse câncer gástrico é grande, pois muitas vezes o seu diagnóstico não é feito na fase inicial, geralmente o câncer começa a ser tratado quando já está em um estágio avançado, tornando-o um dos problemas mais importantes para a saúde.

Por isso, é fundamental que aconteça a detecção precoce do câncer. Com isso, é possível encontrar um tumor em sua fase inicial e assim começar o tratamento. A detecção pode ser feita por meio da investigação com exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos em pessoas com sinais e sintomas sugestivos da doença (diagnóstico precoce), ou com exames periódicos em pessoas sem sinais ou sintomas (rastreamento), mas pertencentes a grupos com maior chance de ter a doença.

Caso essa detecção precoce não ocorra, a busca por metástases desempenha papel importante no estadiamento e por consequência no decorrer do tratamento do paciente diagnosticado com câncer gástrico. A carcinomatose peritoneal é a disseminação do câncer pela cavidade abdominal. A doença sai de seu órgão de origem, neste caso do estômago e se espalha pelo peritônio.

Por essa razão, os exames de rotina são indispensáveis! Mesmo que você nunca tenha visto algo relacionado em sua família, ou não sinta nenhum dos sintomas recorrentes dessa doença, é primordial o diagnóstico precoce, pois além disso, as metástases do carcinomatose peritoneal podem ser assintomáticas, ou seja, o paciente, pode não apresentar sintomas durante algum tempo.

Dr Artur Reis é médico especializado no tratamento de doenças do peritônio, realizando cirurgias de alta complexidade, como a cirurgia citorredutora associada a quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC), popularmente conhecida como peritonectomia.